HORAS PARA EXISTIR
Acordar bem cedo pra sobreviver,
E ir disputar o prato de comida,
Só faz o nosso corpo desfalecer,
Pois essas horas contam a vida.
Vendendo as horas para existir,
Pensando que vai ser para sempre,
Mas no final é que vai descobrir,
Que, sem elas, o morto nem sente.
Nas ruas encontra outros iguais,
Correndo ao sol, doando as horas,
Como se fossem simples animais,
Que nada desejam, além da piora.
Sentindo o corpo só desmoronar,
Buscamos por saúde na academia,
E quando pensamos em melhorar,
Não é mais tempo de alforria.
Quem vê amigos se despedirem,
Não imagina o porquê da morte,
Pois não aceita eles partirem,
Mas não há mistério mais forte.
Sinto o cheiro de sândalo vir,
Mas prometo que não vou chorar,
Ou enquanto a dor não sentir,
É o medo que tem seu lugar.
O segredo é só valer a pena,
E deixar saudades no outro,
É cuidar também das seriemas,
Pois a vida é paga sem troco.
Bom mesmo talvez seja o poeta,
Pois é louco e afronta a tudo,
Questiona os desejos e metas,
E até versa chorando o luto.
O poeta é profeta do avesso,
Porque ele devora as crenças,
Quando fala de tudo em um terço,
Para quem estiver na presença.