O FINGIMENTO
O poder vive sempre fingindo,
Quando diz ter pena de pobre,
Onde o rico só vive sorrindo,
Porque acha que tudo ele pode.
Nesse mundo eu vejo a mentira,
Embalada em voz meiga e sonsa,
E mata tudo que vê, pois atira,
Inclusive em mulher e criança.
Mas que pena eu tenho d'ocês,
Lenhadores sem mãe ou parteira,
Que desmatam de louro a ipês,
E não sabem o porque da feira.
Há quem viva pensando no céu,
Ou apenas de cara pro vento,
Mas não vê nada além do véu,
E quer tudo antes do tempo.
Erram por falta de ética,
Ao querer ter hoje o futuro,
Sem plantar na dose correta,
O que sirva no claro e escuro.
Ninguém tem um olho de águia,
Mas podemos prever o amanhã,
Se olharmos as fontes de água,
E o sol que nos traz a manhã.
Saberemos louvar a criação,
Porque ela é Deus entre nós,
E não basta saber a oração,
Sem ação que me una a vós.
Nossas nações são só convenções,
E já não servem de colo e lar,
Só buscando a coragem em arpões,
Se esquecendo que viemos do mar.
Defino o mundo como fingimento,
Pois ninguém se declara bandido,
E não há a partilha do tempo,
Se o tempo de vida é vendido.