DINHEIRO PRA NADA
Nascemos de um ato não pago,
Até porque a parteira foi tu,
E a riqueza é no último trago,
Onde um bêbado até fica nu.
Se eu moro no campo e planto,
Eu tenho o leite da vaquinha,
Além de caprinos pelos cantos,
E um poleiro com as galinhas.
No fundo da casa há uma horta,
Que dá o tempero e o ervanário,
E há um jardim diante da porta,
Para as aves num canto diário.
Tudo que eu planto tem serventia,
E o que me falta vem do escambo,
Então o dinheiro pra nada servia,
Mas a amizade eu prezo e canto.
Eu escrevo poemas para regozijo,
E sonho à noite o que faço de dia,
E ponho em letras o gozo do trigo,
Pois eu tomo café com pão fatia.
No meu sanduíche tem queijo prato,
E no meu café tem açúcar mascavo,
Mas eu frito a macaxeira do Crato,
Com boa manteiga, canela e cravo.
O dinheiro não serve para o amor,
Pois amor que se compra, se trai,
E o abraço sincero tem mais valor,
Como um colo ou lágrima que cai.