A JORNADA
Aquele homem está bem velhinho,
Trazendo consigo a sua jornada,
Olho no olho, até mesmo sozinho,
Porque foi tropeiro na estrada.
Ele caminhou, dirigiu, cavalgou,
Mas viu as tragédias da pressa,
Pois existe quem nunca viajou,
E saiu sem ter rumo da festa.
Quando alguém pensou ter chegado,
Já era apenas um suspiro cançado,
De um corpo que restou prostrado,
Na cocheira ou à beira do pasto.
Muita gente já saiu sem destino,
Mas alguns ficaram pelo caminho,
Pois uma curva propõe desatino,
Quando as bordas têm espinhos.
E quando quisermos longevidade,
Ou o gozo das graças terrenas,
É preciso rever suas saudades,
Sem regras, louros ou penas.
Essa é a verdadeira jornada,
Que nos cobra colo e abraço,
Porque beber e comer é nada,
Comparado ao poema que traço.
Na jornada há tropeiro e poeta,
Pois na hora da ceia tem canto,
Com sanfona e a prosa correta,
Declamada entre risos e prantos.