SAUDAR O MAR
Um dia eu irei saudar o mar,
Mesmo que o sal me faça mal,
E lembrar os tempos de estudar,
Na velha Bahia que não tem igual.
Ali nasce pronta a sabedoria,
Pois tem o povo feito de lutas,
Mesmo com traumas ou agonias,
E alguém, se for sábio, escuta.
Olhando pras ilhas e a baía,
Comendo abará sem uniforme,
Gozando de uma real alforria,
À luz da lua o corpo dorme.
Seremos exemplos para o futuro,
Se fizermos nossas lições de casa,
Cuidando de tudo, até no escuro,
Voando bem alto sem queda de asa.
A vida nos pede viver cortesias,
E com respeito a velho e criança,
Pois cada adulto já viu maresias,
Nas águas que guardam esperança.
Seria preciso eu jogar capoeira,
Onde lembrasse meu tempo de mato,
Nas encruzilhadas e pés de aroeira,
No banho de folha e doce no prato.
É bom aprender e também ensinar,
Pois tudo que faço gera memórias,
E tenho o passado de algum lugar,
Pois venho de muitas histórias.
Quem vem à Bahia, logo se apaixona,
Porque sua beleza é um povo gentil,
Forjado no coito de alguma mucama,
Mas com o tempero de quem partiu.