SEM QUERER FINAL
Me vi sobre um lençol d'água,
Mas não foi lá que eu sofria,
Sendo noite e a lua brilhava,
Onde lobo e coruja sorriam.
Na surdez que me deu quietude,
Não ouvi nem a uivo ou piados,
Mas o vento me pedia atitude,
Antes do navio estar ancorado.
Lá eu vi que os peixes saltavam,
E achei serem naves do hospício,
Num ataque onde já me cercavam,
E nos atóis tive o meu ofício.
Hoje eu não vou ao mar profundo,
Pois tiraram minhas barbatanas,
E já não posso sair pelo mundo,
Mas ainda sou o calor da chama.
Vejo os rios sujarem meu lar,
E a água maculada por esgotos,
E uma voz amiga brota do mar,
Querendo que lembrem dos botos.
O mar é colo de mãe e fartura,
Mas precisa de respeito agora,
Porque toda oferta gera fatura,
Se a vida é um mar que implora.
Eu sei que o planeta me abomina,
Pois sou esse ser imprevisível,
Se falo de amores e uso a rima,
Mas quero do mundo o impossível.
Queremos a eternidade do imortal,
Sem aceitar dividir essa benesse,
Então, ao viver sem querer final,
Vamos saber o que nem acontece.