FINDAR OS IMPÉRIOS
Crianças são como os anjos,
Erês de um tempo de júbilo,
Sem ter o pecado dos santos,
Nem o medo e o nojo ao cubo,
Pois a vida tem seus encantos,
Mesmo que gritem em prantos,
E o caboclo esteja no escuro.
São meninos, meninas e fraldas,
A guardar o que não se guarda,
Mas são todos de saias e calças,
Todas que são como a farda,
Pra andar em ruas e praças,
Com as blusas nuas de alças,
Ou desnudos pelas madrugadas.
Mas chegam os dias sem flores,
E o espinho floresce nos galhos,
Pois colheram o mel dos amores,
Com colônias cheirando a alhos,
Sem patacas e dobrões dos Açores,
Se as enguias promovem só dores,
Onde o mar é mais que o orvalho.
Mas lançaram no mar de Cervantes,
Suas naves com bombas, navalhas,
E marcaram os povos de antes,
Como seus espantalhos de palhas,
A querer torturar por instantes,
Ou seria com soldados e infantes,
Dando a Gaza a dor das batalhas.
O futuro nunca lhes perdoará,
Ó, príncipes de trevas e noites,
Pois não há mais leões de Judá,
Nem a meretriz quer ter açoites,
Onde o mundo saberá liquidar,
A fatura da guerra sem lugar,
Pois há ganância nas cortes.
E também vão findar os impérios,
Dos que não souberam ter filhos,
Porque deram culto aos minérios,
Quando são vícios sem brilho,
E depois de matar o índio sério,
Pois em cada tempo há mistérios,
O dragão vai queimar suas tribos.