ENTRE NÓS
Tudo entre nós é carnaval ou rito,
De quem vai gozar ou contemplar,
Mas nem tudo eu mesmo acredito,
Se meu jeito de vida pede o calar.
Eu quero calar mas sou tagarela,
E falo de tudo, até sem razão,
Pois tenho o verso como umbrela,
Se o que escrevo é com emoção.
Entendo essa terra como base,
De onde me lanço como foguete,
Pois quero ser todas as fases,
Do cosmo ao fio de um azeite.
Eu sei que somos como azeitonas,
Ou como amêndoas de um bom café,
Donde esguicho seivas em ondas,
Ou vou de pilão macerando a fé.
Estou pelo mundo igual ao rio,
Mesmo que o vento pela licença,
E, se, nos encontros, me desvio,
É para voltar à ponta da lança.
São lanças, por crer no invisível,
Pois sou a energia que me molda,
E, mesmo sangrando de modo risível,
Sou seixo de rio que nunca volta.
Só quero colher um fruto por dia,
Mas ter cada árvore à disposição,
Como sombras de um baobá como guia,
Da tarde que chega em cada verão.
Eu quero falar em versos de poesia,
Da dor que constrói sem destruir,
Pois tudo muda, mas sem agonia,
No tempo que molda o meu evoluir.
Somente assim, com paz e molejo,
Eu toco as cordas do meu violão,
Mas meu berimbau é como me vejo,
Pois basta uma corda ao diapasão.