SOBRE NOSSO EXISTIR
Eu devo sempre saldar meu orí,
Mas não vou esquecer meu Ogum,
Quando eu vejo de onde vim,
Mesmo quando eu faça jejum.
Em minha meditação vou louvar,
Tudo o que perpassa o meu ser,
Pois a vida transpõe um lugar,
Se o mistério é nosso merecer.
Quero estar além das estrelas,
Mas eu sei que isso é intrínseco,
Porque sou energia sem vê-las,
Como fluido que sangra no sêco.
Eu também quero ver o passado,
Porque somos o gás e seu fruto,
E não quero dogmas, nem ditado,
Mas eu vou querer o usufruto.
Cada dia que acordo é de vida,
Mesmo que a vida vá além da carne,
Pois alguém se mostrou pela lida,
Mas a vida nos requer liberdade.
Foi assim que migrei pelo cosmos,
Transpassando todas as dimensões,
E, se fui anjo entre micróbios,
Ninguém vai lembrar suas versões.
Os cofres têm portas nas casas,
E segredam as vidas que aguardam,
Pois não devo me ver pelas cascas,
Mas nas sementes que se espalham.
Sei que não sou sozinho na mata,
E, por isso, abraço o sol e a lua,
Porque não quero uma casamata,
Pois na guerra a terra está nua.
Sei que na dor a cor é vermelha,
Ou é preta, sem querer o sofrer,
Pois a nossa história se espelha,
Na volúpia dos meus dias sem ter.
E saber que nos roubam as vidas,
Faz pensar sobre o meu resistir,
E que tudo evoca as feridas,
Mas ainda é preciso existir.