O SEGREDO É UM TALVEZ
O que será de nós, pobres mortais,
Diante da seiva que ainda escorre,
E cai num cálice de vinho e sais,
Mas que ninguém bebe quando morre?
Eu quero ter forças para aceitar,
Ser imolado entre nuvens de verão,
E ver cada lágrima a me acalentar,
Quando a pedra fechar meu caixão.
O segredo é um talvez ou a brisa,
Que o luar, à noite, nos permite,
E a seiva me abrace como camisa,
Quando a pele treme e resiste.
Eu quero o perdão de cada mãe,
Porque nossos pais são apensos,
Se um homem ou mulher, ai, ai,
É que dita meu sexo e sustento.
Se eu sou parecido com um índio,
Ou também sou a cópia de um basco,
Se fui mouro ou fruto do Índico,
Ninguém saberá que sou monegasco.
Mas quem sabe um tapuia foi ave,
E voou sobre esse grande Kalunga,
Ou ligou mãe Bahia com uma nave,
E foi ver o Congo de Dandalunda.
Então, pego a cuia e sirvo um chá,
Com as ervas sagradas da floresta,
E louvo aos santos e aos orixás,
Pois nossa terra é sabor e festa.
Mas não digam que há crença maior,
Porque cada tribo tem seu sujeito,
E a nossa cultura tem andor e suor,
Pois a morte é igual ou sem jeito.