ALVOS DO FOGO
Antes que me incinerem no ódio,
Vou lhes dizer o que me liberta,
Contando o meu caso simplório,
Onde todos tem sua hora certa.
O que seja correto para alguns,
Certamente não será sempre aceito,
Pois os gênios da corja de eguns,
Nunca saberão se é um defeito.
Talvez sejam erros os alvos do fogo,
Pois ele é preciso em uma cozinha,
Ou na siderúrgica e assando um bolo,
Desde quando nossa vida convinha.
Não queiram as queimadas no campo,
Nem fazer churrasco com palestinos,
Pois os holocaustos são desmandos,
Como traumas dos moucos destinos.
Quem abre uma clareira nas matas,
Deveria entender um pouco de mãe,
Pois a vida que querem as ratas,
É a mesma de quem amassa os pães.
Todo ser vivo não quer ser fogueira,
Tão somente com elas se aquecer,
Pois os rios não sobem as ladeiras,
Desde quando quer o mar conhecer.
Rios nascem nos topos do mundo,
Como graça ou mistério dos céus,
E a vida de um mísero vagabundo,
Quer dizer não haver Papai Noel.
Não acredite em contos de fábulas,
Nem nas estórias de um pergaminho,
Pois tudo o que brota de rábulas,
Não são lei nem ordena o caminho.
Ninguém nasceu apenas de um homem,
Nem mulher veio de alguma costela,
Nem senis velhos geram outro homem,
Pois o mundo é uma regra singela.
Não adianta inventarem mil abraões,
Nem um Merlim com a távola redonda,
Pois quem viu catacumba e porões,
É que sabe quando a morte lhe ronda.
Hoje eu vejo luxúria e ganância,
Junto ao orgulho de cada malandro,
Querendo furtar até uma infância,
De quem não aceita ser camundongo.
Então, não aceitem sermos cegos,
E vejam a tragédia ao nosso lado,
Pois ontem foram corpos e pregos,
Mas hoje os judeus são culpados.
Miseráveis não seriam alvos do fogo,
Nem uma criança merece ser condenada,
Pois só quem viveu e provou do nojo,
Sabe o que perde uma vida ultrajada.