UM DIA NA TERRA
Estavam num vão de espera,
Entre as brumas celestiais,
Mas tiveram seu dia na terra,
Se fazendo de breves mortais.
Eram eles, os seres fantásticos,
Serelepes em almas ancestrais,
Onde se mostravam enigmáticos,
Qual sacis ou prismas astrais.
E logo criaram os humanídeos,
Como primatas para aprender,
Convencendo os monstros canídeos,
Ou enfrentando-os para sobreviver.
E assim, estamos homo não sapiens,
Pois ainda não deu para entender,
Como somos onívoros e versáteis,
Mas teimamos só os bichos comer.
Até mesmo o mais louco poeta,
Come carne como sob hipnose,
Mesmo quando o mel é a meta,
Pois o sangue lhe dá trombose.
Foi assim que chegaram ao planeta,
Sem um colo de mãe ou carinho,
Em conflito e, às vezes, um perneta,
Pois o jacaré atacou-lhe no ninho.
Mas o homem é um carniceiro,
Que aprendeu a ser tão belicoso,
E assou todos bichos primeiro,
Se tornando algo mais perigoso.
Hoje a vida está sob ameaça,
De quem diz querer defendê-la,
Como um sionista ante a sarça,
Só fingindo que vai aquiecê-la.
Esses loucos fingem ouvir a Deus,
Mesmo quando Deus nunca lhes fala,
Pois a fala do que pode ser Deus,
Só é ouvida quanto tudo se cala.
Mas o homem não fica calado,
Pois descobre o tom e a crase,
Que nos pede um toque dobrado,
Onde o couro de bode nos case.
Esse dia na terra eu declamo,
Minha fé que tudo vai passar,
Pois a vida que hoje proclamo,
Vai buscar outro Sol ou luar.