O QUE TODOS ACHAM
Eu sei o que todos acham de mim,
E respeito seu direito de achar,
Se permito que deseje o meu fim,
Mas eu quero é com versos falar.
Não me queira calado, pois vivo,
E não creia que eu acorde morto,
Pois meu cerne é o que acredito,
Mas também o que seja meu porto.
Eu seria qualquer coisa no mundo,
Se não fosse o que trago de antes,
Que escondo em meu poço profundo,
Ou, às vezes, vomito em instantes.
Sendo aquele que suporta o mundo,
Já me vi em titânicos suplícios,
Nos portais em que sou vagabundo,
Porque não aceitei seus ofícios.
Quando alguém renasce socrático,
Todos dizem que foi erro de Deus,
Mas eu digo que poeta é errático,
Pois é aquele que viu até Zeus.
Nesse mundo, em voltas de Halley,
Tudo é tempo e é giro ou comédia,
Mas quem nasce sabendo o que vale,
Logo vão lhe propor a tragédia.
Quando temos centelhas de luz,
É porque somos grãos de areia,
Ou segredos do mar que seduz,
Porque lá também somos sereias.
Só não queiram o modo estático,
Pois não somos rochedos da lua,
Mas o Sol no inferno do ártico,
Ou também nas esquinas da rua.