A MATA CHORA
Quando a mata chora de dores,
É porque lhes derrubam a casa,
Jogando ao chão não as flores,
Mas o jequitibá logo em brasa.
Tudo é em nome do pastoreio,
Porque crêem em gado e capim,
E selam cada chão sem receio,
Mas as fontes d'água têm fim.
Já não vejo brotar minadouros,
E os rios se vão com a erosão,
Com desertos sem fé e sem ouro,
A não ser que achem na ilusão.
No norte da Bahia avança a seca,
Sem ter mais equilíbrio e chuva,
Mas pede que ninguém se perca,
E garanta a safra de cada viúva.
Se guardarmos a água dos céus,
E fizermos tanques e cisternas,
Pra colhermos de tudo sem fogaréu,
Tudo vai melhorar nessas terras.
É preciso agirmos como a selva,
Porque lá todos são civilizados,
E vivermos em burgos sem merda,
Pois devemos tratar o rescaldo.
Nossos líderes devem ser irmãos,
Não os donos tiranos sem medo,
Só cuidando, sem fazer sermão,
Pois o verbo fútil morre cedo.
Quero um dia ver tudo às claras,
Para quem me provar estar errado,
Mas eu sei quem é digno de palmas,
E talvez seja em outro reinado.
Tudo agora é cheio de apelidos,
Tem de rato a galinha ou peixe,
Gente se dizendo os ofendidos,
E fazem da vida lenha em feixe.
Estou triste demais com o futuro,
Pois já me derrotaram o presente,
E se está tudo tão frio e escuro,
É porque nós causamos enchentes.