MUNDO SEM REFERÊNCIAS
Certo dia me vi sobre a lava,
Como carga em navio negreiro,
E nesse rio foi onde eu lutava,
Pra ser livre e não prisioneiro.
Mas há quem se aceite escravo,
Ou todos nós somos doutrinados,
Mas chegará nosso dia de salvo,
Quando findarem esses reinados.
O nosso sangue serviu de néctar,
Para cada Leopoldo na Europa,
Mas nada é eterno, até o quasar,
E mesmo a senzala verá a revolta.
Na liberdade nós somos humanos,
Senão, entre grades, o que sou?
Porque a vida sucumbe aos anos,
E eu serei o que o vento levou.
Nas curvas do rio, se vê o luar,
E a noite eterna é a mesa posta,
Só não há perdão para Salazar,
E ao carrasco que nos desposta.
E eu serei a revolta do bruxo,
Ou a dor de preto ou indígena,
Pois ninguém me salva com luxo,
Quando eu preciso de alienista.
Vivemos o mundo sem referências,
Onde o que importa é o dinheiro,
E o que digas contra a ciência,
Me lembra que sou seu candeeiro.
Ver um pirilampo na invernada,
Me lembra o luta de gota e fogo,
Pois a andorinha na sua jornada,
Propõe sermos bombeiro no jogo.