MEIO-DIA OU À NOITE
Fui depressa pela cidade,
Quando era quase meio-dia,
Encontrando com a mocidade,
A qual não sabe o que havia.
Tempos idos de barro e de chão,
E era preciso também cavalgar,
Mas nem tudo era feito à mão,
E, por isso, uma pedra é otá.
Quem nasce na seca da caatinga,
Reconhece o som de um chocalho,
Pra saber de bode e mandingas,
Mas também das cobras no atalho.
Foi, então, que saí pelos campos,
Pois disseram haver um terreiro,
Onde, à noite, há os pirilampos,
Mas, decerto, tem até juremeiro.
Foi quando vi um pé de cabaças,
E também vi os couros curtindo,
Pois a casa era frente pra praça,
Com a varanda pro sol matutino.
Lá estavam vários bons anciãos,
E a juventude sentada que ouvia,
Com as histórias de meus irmãos,
Que já foram no fogo que ardia.
Tinha também fogueira e porteira,
Num anúncio de que ali tem Xangô,
Mas da cerca crescia a mangueira,
Me dizendo que Ogum se achegou.
Tive o gozo de estar num xirê,
Pois lá chegavam as entidades,
Convidando até a vossa mercê,
Pra louvar modos de santidade.
Quem puder nesse mundo ser bom,
Vai andar sem elmo e bússola,
Pois o mundo é aquarela de tons,
E nos quer arco-íris que pulsa.
Quem for de gentileza e amor,
E souber cuidar de quem chega,
Vai servir sem pedido ou clamor,
Pois o céu é de branca e negra.
Eu que sou profusão de origens,
E nascido entre ninhos e cochos,
Fiz o meu galanteio às virgens,
Mas também fui pai de moços.