O INÍCIO FOI A PÉ
Nascemos sem carro ou trem,
Mas vivendo num mundo cético,
E comemos de tudo o que tem,
Consumindo sem modo ético.
Se estamos numa praia há peixe,
E se é mangue, temos caranguejo,
Mas cuidamos do pasto pro leite,
E ter carne, manteiga e queijo.
Certo dia me vi pelo deserto,
Só não quero me ver lá de novo,
Mas se vamos ao lugar incerto,
Tudo serve, até mesmo um ovo.
Há muito tempo inventaram a roda,
Mas o início foi a pé ou montado,
Pois o cavalo era parte da moda,
Que hoje é ciclo, moto ou carro.
Mas chegaram foguetes e aviões,
E fomos pra lua sem mergulhar,
Mesmo quando soltavam balões,
Sem saber o profundo do mar.
E um dia fizeram o submarino,
Como todas estórias de Nemo,
Mas o fundo do mar é uterino,
Porque lá gera até o sereno.
Só não falam sobre um buraco,
Donde a toupeira se escondeu,
Pois fizeram um túnel em arco,
Por onde todos vão ao ateneu.
E assim é que insurge o poeta,
Já que a vida me pede reflexão,
Pois se o minotauro é de Creta,
Um velocino pertence a Jasão.
E um poeta pode até ser ferino,
Mas também pode dar emoção,
E sua alma é a música sorrindo,
Porque nos afina sem diapasão.