SENTIDOS NA LOUCURA
Meus sentidos se vão na loucura,
E não sinto teu afago e abraços,
Como a minha visão nem procura,
Porque já não ouço teus passos.
Falei do quão bom é teu tempero,
E tuas poções na panela de barro,
Mas se nunca fui bom cozinheiro,
Eu entrego a marmita de carro.
Aprendi a organizar boa mesa,
E poder atender os compadres,
Pois comer feijão e calabresa,
É fortuna na ilha dos frades.
Quem na vida nascer beiradeiro,
E por perto não criar seu gado,
Vai à pesca no mês de janeiro,
E só para se fisga um robalo.
Mas há quem sonhe com baleias,
E lhes digo que é do passado,
Pois hoje sabem que dá cadeia,
E são protegidas pelo Estado.
Então eu preparo o meu tanque,
Mas faço a pocilga a seu lado,
E planto um feijão de arranque,
Com milho, banana e o gado.
E quando tiver de volta saúde,
Vou querer construir um barraco,
Para morar, como orar amiúde,
Celebrando a feitura do barco.
Pois quem sabe segredos antigos,
Que vieram de berços em África,
Toca atabaque até nos domingos,
Pois a fé com axé é na prática.