NA LUA OU NA TERRA
Serenatas na boca da noite,
Só me falam de alguma paixão,
Como a sina das cobras de hoje,
É ser essência em cada poção.
Se o meu caldeirão borbulha,
Com a morbidez dos segredos,
Digo a quem voa ou mergulha,
Saiba que há coragem e medo.
Mas se a gata sobe ao telhado,
E mia quando a lua está cheia,
Não diga que é só mau olhado,
Porque ela, à noite, pranteia.
É como nós fossemos um lobo,
Que viesse a uivar na alcatéia,
Querendo dizer pra outro lobo,
Que a viagem é uma odisséia.
Por isso buscamos no oculto,
O que guardam em segredo,
Bem antes que chegue o luto,
Ou a vida se vá desde cedo.
Quem sabe porque o rio seca,
Senão por vontade ou maltrato,
Dirá que o tempo é a represa,
Das lágrimas de um ultimato.
Mas se aqui o rio logo inunda,
Então, porque moro nas margens?
Se o caboclo com a roupa imunda,
Sabe mais do que ter só coragem.
Foi como a tragédia em Mariana,
Onde sofreram seu povo e o rio,
Que também arrancou cada escama,
Dos peixes que o mar não viu.
A ganância acoberta com grana,
A saúde que falta em cada país,
Pois se cada hospital é sacana,
É pelo doutor querer ser juiz.
E o carrasco se faz de político,
Nos trazendo as dores da guerra,
Mas se tivermos senso crítico,
Tudo muda na Lua ou na Terra.