× Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Prosas de Braga
Vivências e sonhos de um poeta e eterno aprendiz!
Textos

NO MEIO DA CAATINGA

NO MEIO DA CAATINGA

Tirei vários dias pra andar,

E escolhi andar pelo Brasil,

Mas tem dias pra cada lugar,

Como abraços de calor e frio.

Eu saí de Jequié pelo sertão,

E fui ao coração da caatinga,

Sem ver rio, nem de aluvião,

Pois ali não tinha restinga.

No início era somente asfalto,

Mas essa via não era um final,

E no chão foi poeira ou assalto,

Pois secaram a lagoa com sal.

Entre cercas caídas e espinhos,

Fui andando como uma serpente,

Em estradas que andava sozinho,

Mas a cana quer ser aguardente.

No início, o vento nem soprava,

Pois os morros impediam o verão,

E fui beber água pela chapada,

Porque lá tem um bom ribeirão.

Lá ocorriam pés de juá e mangaba,

Entre bromélias e cabeças de frade,

Mas sobre o lajedo o bode estava,

E fui andando de manhã e à tarde.

Parei para dormir pelos ranchos,

Com licença de bons catingueiros,

E fiz a cama com lençóis brancos,

Mas sentei para um café ligeiro.

Entre causos e repentes à varanda,

Muita prosa ouvi e também recitei,

E as crianças comiam cajaranas,

Que colhi nos quintais que passei.

As rezadeiras demonstravam ter fé,

E com elas rezei todos os ofícios,

Com as cantigas de um velho pajé,

Que traziam paz e seus benefícios.

Nos terreiros, vi o povo dançando,

Enquanto a lua cheia se achegava,

E os grilos, com a coruja passando,

Guiavam até onde um guará estava.

Ali eu ouvia os seus uivos,

E admirava as estrelas cadentes,

Mesmo quando um relógio de cuco,

Me lembrava de velhas serpentes.

Mas fui andar e a manhã era linda,

Pois a sabiá laranjeira acordava,

E depois de ajudar com as faxinas,

Na ordenha um bom leite eu tomava.

Teve o lugar em que comi requeijão,

E a rapadura de um velho alambique,

Com o café que retirei de um pilão,

E os ovos que uma aquicó permite.

Depois eu segui a buscar pelo dia,

Pois a estrada me quer andarilho,

Sem pescar ou caçar o que eu via,

Mas agradecendo cada fubá de milho.

Foi comendo, às vezes, uma canjica,

Pois sempre tem dias de São João,

Pra dançar com a fé mais bendita,

Se quem planta celebra o chão.

Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 04/08/2024
Alterado em 05/08/2024
Comentários