LENDAS DE QUEM ESCREVE
Até mesmo quem escreve tem dia,
Mas eu sei que hoje é só digitar,
E dentro em breve serei fantasia,
Porque um poeta já não tem lar.
Nos idos da Grécia, em Atenas,
Talvez nem soubessem escrever,
Pois o predomínio eram trevas,
E não o amor como modo de ver.
Nem sempre nós tínhamos cânhamo,
E os papiros eu só via no Egito,
Mas hoje, entre o sol e Urano,
Só temos satélites e meteoritos.
Porém, eu quero viver o agora,
Com vontades absortas ao vento,
De olho nas pegadas da caipora,
Ou como Janus, no meio do tempo.
Na dúvida, serei apenas consolo,
Pois sei que ainda há sofrimento,
Mas deixo aos que plantam o joio,
A esperança por trigo e fermento.
Só quem experiencia a bondade,
E colhe seus frutos ou utopias,
Saberá quão é boa uma saudade,
De quem se fez fênix na agonia.
Mas também saberão sobre os maus,
Que cultuam a morte e o sofrimento,
E que se fazem correntes e degraus,
Para os que não verão o firmamento.
E eles, sendo o mal que se encarna,
Se vestem de anjos nas metrópoles,
E falam que fé e família são farda,
E que devo ser cego ou um ciclope.
Mas eles nunca entenderão as lendas,
Que se foram em histórias propostas,
Quando a vida era o mel das moendas,
Que o tempo nos propunha em apostas.