O TEMPO NOS FALA DA MORTE
Só o tempo nos fala da morte,
Pois o que ele nos dá, ele toma,
E quer de volta o sul e o norte,
Porque luta de boxe leva à lona.
Todos nós que nascemos desnudos,
Vamos morrer sem levar uma roupa,
Muito menos o ouro e o estudos,
Ou o sabor de um prato de sopa.
E o nosso relógio é tão rápido,
Pois a sensação é que tudo se foi,
Se quando acordo é azedo o hálito,
Tendo de escovar o dente que dói.
Nascemos banguelas, mas vem o dente,
E todos os pelos no peito e cabeça,
E ficamos saudáveis ou mesmo doentes,
Pois a terra aceita que tudo pereça.
A morte faz vidas e tudo continua,
Só não sei onde vou guardar a alma,
Se será num portal que se insinua,
Ou apenas na brisa que nos acalma.
Todo dia há convites para o velório,
Pois a vela se acende e logo apaga,
Como breve é a vida nesse sanatório,
Onde o morto é esgoto na descarga.
Depois de sete dias ou três luas,
Ninguém mais lembra do seu passado,
Que foi toda a vida de almas nuas,
Se não fez o que vendem no mercado.
Não verei no espelho o meu sorriso,
Depois que deitar no mármore frio,
Serei tão apenas pegadas no piso,
Se o barro afundar de modo sutil.