QUEM COME OS CAMARÕES
Um pobre poeta é como um profeta,
Ou cada eremita no solo desértico,
Mas que é rico como monge asceta,
Quando se sustenta de modo ético.
A riqueza contrasta a pobreza,
Mas nos mostra também a luxúria,
Quando se esbalda como nobreza,
Sem saber porque ela é espúria.
Não há ilusões quando se é pobre,
A não ser pelas propostas de fé,
Até mesmo se a esperança é nobre,
Ou quando o trem o aceite de pé.
Aos pobres não há convite à mesa,
Para não constrangerem os ricos,
Quando pescam camarões na represa,
Mas já sabem quem os come fritos.
O rico pode ir ao teatro de ópera,
Enquanto o pobre ri da própria dor,
Mas o consolo que a vida espera,
Nos fala de quem carrega o andor.
É nas procissões que se calam,
Os protestos em nome da miséria,
Pois, feridos, joelhos se escaram,
Porque as promessas são sérias.
E os humildes já não são exaltados,
Porque não há mais fé no sistema,
Seja no capitalismo ou no cáucaso,
Pois há algoritmos até no cinema.