VELHOS COUROS
Quem chega à velhice só chora,
Porque já perdeu seus amigos,
Ou quando são jogados fora,
Como velhos couros curtidos.
Num mundo cheio de vaidades,
Um velho não cabe na festa,
Porque já passou da idade,
Ou ficou senil e contesta.
Os velhos são pura chatice,
Enquanto o jovem é disputa,
E se é um velho quem disse,
Ninguém nem mesmo o escuta.
Mudaram o sujeito com o tempo,
E no progresso nada é de graça,
Ou negam que houve outro evento,
Quando a uva de hoje é passa.
Ninguém mais vê ordenha no pasto,
E já não usam cacau no chocolate,
Pois não há um bilhete no frasco,
E na salada não tem mais tomate.
Tudo agora é pronto e rápido,
E o mundo pulsa bem acelerado,
Com o petróleo na asa do pato,
Que já não voa e está cercado.
Já não como lasanhas em Roma,
Se um drone traz elas a jato,
E não sei se a lua é redonda,
Pois a nuvem encobre seu rastro.
Tudo é satélite ou só algoritmo,
E nem sei se estou vivo de fato,
Depois que sou um raio ou atrito,
E o amor já não é tão barato.
Querem que eu entenda de guerra,
E produza o que não me dá prazer,
Estão fazendo tudo que é merda,
E a desculpa é ser Deus a dizer.
Só não revelam que Deus quer nada,
Porque tudo é dele e é o bastante,
Desde o fogo no céu ou na água,
Ou a fissão nuclear nesse instante.
Hoje tudo é fantoche no mundo,
E por isso ressuscitaram Israel,
Onde não existe um céu vagabundo,
Mas a ganância é ter Papai Noel.
Hoje torturam querendo justiça,
E só a praticam quando delatam,
Pois fazem do ouro a sua baliza,
E, se discordar deles, te matam.