ALÉM DAS ESCOLHAS
Muitas pessoas não choram,
Ou só lacrimejam com cebolas,
E não declaram a quem devoram,
Pois tudo é além das escolhas.
Há gente que trata outros sem dó,
Como fosse alguém com loucura,
Sem dar o direito à clave de sol,
Porque no réquiem a dor não cura.
Nele reclamam, mas logo esquecem,
E tudo que resta é no testamento,
Mas o velho e o novo não se parecem,
Pois um prega a morte e o tormento.
No outro nos iludem pregando amor,
Num mundo em que a dor é o prêmio,
Pois querem pro outro não a flor,
Mas o espinho em bônus e anuênio.
O prazer nefasto de louvar a morte,
Pode ser regra, pois todos se vão,
Mas antes da morte supõem ser sorte,
Viver sem perspectiva de sublimação.
E o mais engraçado é ser besta humana,
Que mata sem fome ou pensando no gozo,
Pois devíamos ser como macaco e banana,
Que não se encontram na feira do rolo.
Tudo que fazemos tem ato pregresso,
Por isso questionam o livre arbítrio,
Pois nossas escolhas estão no verso,
Atrás da imagem do corvo político.