NUM DESCOMPASSO
Eu vivo num descompasso cósmico,
Onde nada tem regra ou princípio,
E os homens são seres despóticos,
A querer definir o fim ou início.
Mas eu não me preocupo com isso,
Se o tempo é senhor do acaso,
Pois nem quer e precisa de visto,
Ou "permisso" para ditar o ocaso.
É assim a derrota dos impérios,
E o precipício do corpo humano,
Pois a idade é como adultério,
E nos trai por debaixo do pano.
Eu tenho receio é da desventura,
De quem plantou e nem escolheu,
Mas pagou o preço da aventura,
Que alguém não taxou como seu.
Sendo assim, me cansei das pausas,
E já não posso seguir meu caminho,
Pois os poemas sucumbem às traças,
Que devoraram meus panos de linho.
Minha história poderá ter uma igual,
Pois os loucos podem ter seguidores,
Mas hoje eu vivo o consolo do sal,
E já não consigo medir suas dores.
Cada dia que passa exalto tristezas,
Pois a cada progresso o mundo separa,
Ao termos relógios e aquela certeza,
De não precisarmos estar cara a cara.