GRAVETO DE NINHO
No meu relicário terá um amuleto,
Graveto de ninho na casa do céu,
E vou lembrar do tempo e do vento,
Pois o ninho era como favo de mel.
No meu estuário eu sou o lacaio,
Do dono do rio que vai marejar,
E lá vou lembrar o mês de maio,
Pra ser maresia e cheiro de mar.
No alvoroço do meu hálito,
Eu lembro a comida servida,
E, à mesa, sentado e pálido,
Aquele avô de pele curtida.
Por isso, enquanto viver, eu venero,
O ancestral que me reza e guarda,
Pois nada é como quero ou espero,
Se mar é do mero e a noite é parda.
Então, se for noite, vejo a coruja,
Ou algum grilo que a cobra degusta,
E digo ao veado peralta que fuja,
Porque na caatinga a fome assusta.
E o bode, que tava de olho no umbu,
Viu a cascavel dormindo sem mágoa,
E, num pulo, fugiu com os tatus,
Que roíam batatas na busca de água.
Foi assim que encerrei a conversa,
Que tive com meu tio Pedro na roça,
E no São Tomé eu fiz uma promessa,
Que um dia seria enredo de bossa.