ÚNICA CASTANHA DO TACHO
Vir ao mundo sem um berço,
Ser piscina e não ter água,
É um modo de rezar o terço,
Que na carpideira deságua.
Quem nasce como prematuro,
E o achavam sem sobrevida,
Vai agradecer por quase tudo,
Que acontecer em sua vida.
Vai sorrir e vai chorar,
Mas vai dar a cara ao tapa,
Até mesmo quando esfriar,
Ou o calor gemer a chapa.
Ser a única castanha do tacho,
Depois do escorrego num tunel,
Vem trazer a água nos tachos,
Antes mesmo de julho ou junho.
Era para chegar mais tarde,
Mas essa pressão foi tamanha,
E o mundo não fez mais alarde,
Pois quem bate, também apanha.
Essa máxima serve pra todos,
Inclusive a quem se acha eleito,
Pois um dia se sonha com botos,
Mas no outro a dor é no peito.
Todos morrem depois que nascem,
Pois não somos os donos da vida,
E não adianta usar um disfarce,
Como o dublê numa cena perdida.
Nós devemos sonhar com o amanhã,
Mesmo quando ele não nos ocorra,
Pois o certo é que cada manhã,
Testemunha a dor ser masmorra.