MINHA JUVENTUDE
Não sei se é saudade ou ironia,
Lembrar os dias da minha juventude,
Pois já laborava nas tardes frias,
E até nos verões sem a licitude.
Desde meus oito anos fui adulto,
E me despedi da minha infância,
Pra conviver sem qualquer indulto,
Com as regras da velha estância.
Não tinha direito aos brinquedos,
Somente aos jogos com os velhos,
Se é que velhos sentem os medos,
De ver que a vida é algo sério.
Quem viveu sob esse interstício,
Da sociedade se tornar contemporânea,
Ao sair da senzala pra novo ofício,
Viverá em prédios e não na cabana.
Enquanto no início eu tinha pião,
Ou brincava com as bolas de gude,
Hoje a brincadeira é uma ilusão,
De dados jogados e a morte rude.
Passei na dança de blues e o rock,
E já não tocavam música romântica,
Pois trabalhava contando o estoque,
Das lojas de carros e de mecânica.
Vieram os dias de estudo e trabalho,
Sem tempo para namoro ou diversão,
E a estrada era de asfalto ou barro,
Onde cada cobrança trazia emoção.
Eu tenho saudades da minha juventude,
E ver que no mundo nada é estático,
Pois ontem eu vi se perder a virtude,
E o mundo aceitar ser tão prático.
Findaram o artesanato e a escrita,
Pois tudo é mecânico ou monetizado,
E somos robôs ante a vida maldita,
Ou a morte chega ser ter avisado.