SONHOS PREDICADOS
Acordar é findar os sonhos,
Quando não vai praticá-los,
Porque podem ser tão medonhos,
Ou apenas nossos predicados.
Sonhos falam num modo mistério,
Porque nunca procuram culpados,
Mas denota um trauma mais sério,
Ou aqueles desejos incubados.
Mas os sonhos também são traumas,
De viver procurando um divórcio,
Quando a vida só nos bate palmas,
Num deboche por cada negócio.
Quem só vive no modo newtoniano,
Nunca vai traduzir seu contrato,
E também vai viver seus mil anos,
Sem saber ter vivido de fato.
Mas quem sabe lidar com os sonhos,
Pode andar nas planícies do tempo,
Viajar o infinito sem planos,
No prazer das surpresas do vento.
Vai poder sentir cheiro no amor,
E antever até o seu desenlace,
Porque a vida é uma etapa da dor,
De saber que ninguém é disfarce.
Todos querem a vida com máscaras,
A fingir tudo em cada momento,
Quando guardam até suas lágrimas,
Sem saber que não somos convento.
Somos flores na praça da prece,
E as pétalas vão um dia secar,
Como um fruto também apodrece,
Na quermesse ou beira do mar.
Nós queremos ter sala e a mesa,
Mas é preciso cuidar da cozinha,
E saber que o lavabo é limpeza,
Do suor, que ao sol se avizinha.