SÃO OS TEMPOS
Quem quer ser mais do que é,
Só demonstra o que lhe inquieta,
Mas não pense ser mais do que é,
Se não és Deus, nem em Creta.
Se tu fosses como um minotauro,
Não terias nenhuma vantagem,
Pois só serias um forte no palco,
Que morreria na lúgubre paisagem.
Enquanto a noite é manifesta,
Sonhos se juntam aos pesadelos,
E quando a luz anuncia a festa,
O alvorecer nos eriça os pelos.
Os punhos que cerram são força,
E transborda a coragem do ser,
Ou se indignam no palco da forca,
Diante da noite que é o morrer.
São os tempos de cada escolha,
Se uma é delírio e outra é sofrer,
Pois temos luz da lua nas folhas,
E gotas de orvalho ao sol nascer.
E sobre a lápide há as flores,
Que murcham depois do féretro,
E levam o cheiro e as cores,
Como um alimento pra cérbero.
Eu vi tantas vezes Caronte,
E o barco tão cheio de lágrimas,
Enquanto olhava para o horizonte,
Buscando respostas nas páginas.
Será que lá estará escrito,
Tudo que fiz na vida januária?
Ou ainda serei voz de um grito,
Que podem ouvir numa batalha.
Onde há bombas e sangue jorrando,
Quais serão meus breves sussuros?
Ou serei apenas mortal e humano,
Para celebrar retratos nos muros?
São tantos os nossos dilemas,
Entre os escândalos e as ilações,
Ou serão só meus roucos poemas,
Em meio às mais loucas razões?