É PRECISO ACEITAR
À beira do cais, entre gaivotas,
Olhava os gatos e cães passarem,
Mas as focas me olhavam devotas,
Batendo palmas até ao dançarem.
Eu me lembro dos dias de circo,
No show com os ursos e um leão,
Com traquinos palhaços e micos,
E os mágicos serrando o caixão.
A juventude antiga está ausente,
Pois tudo hoje é muito virtual,
E nossa morte se faz um presente,
Pois um filme torna isso normal.
No cinema toda atriz é charmosa,
Ou até mesmo cowboys e corcéis,
Pois disfarçam tudo com prosa,
Se o ingresso for pago em réis.
Mas, agora ninguém mais sonha,
Pois tudo é lucro ou delírio,
E o artista não vê que apanha,
Soluçando com algum colírio.
São lágrimas de crocodilos,
Que escorrem no rosto humano,
E ebulem até mesmo no Nilo,
Pois não chegam lá no oceano.
Não é fácil ver uma pororoca,
Desde quando há rios de esgoto,
Todos com larvas de muriçocas,
Quando a natureza dá o troco.
Hoje ainda se caça os tatus,
Bem como veados campeiros,
Pois o veneno das surucucus,
É o sangue de uns brasileiros.
É preciso aceitar não ser dono,
Desse mundo que Deus presenteia,
Porque viceja como breve abono,
Mas nos cobra cuidados na ceia.