ESTRADA TÃO LONGA
Todo ser humano só caminha,
Buscando os dias de progresso,
Mesmo num quarto de camarinha,
Ou surfando pelo mar adverso.
Não são tão somente mil léguas,
Mas as distâncias são anos-luz,
Pois se vão comprimindo réguas,
E o espaço-tempo não me conduz.
Não há mais distâncias como antes,
Quando andei de buzú lá em Minas,
Onde vi atletas e até elefantes,
Chegarem mais rápido lá em cima.
Eram as serras entre Minas e Sampa,
E ao lado estava a Praia do Canto,
Que ficava bem perto da Penha santa,
Onde há vilas antigas e encanto.
Andei pelas terras de Pindorama,
Fui índio, caboclo, preto e branco,
Mas, sendo um fruto de uma trama,
Me vi em Canudos e Monte Santo.
Fui Santo guerreiro e até pecador,
Enfrentei batalhas pela liberdade,
Busquei algo mais que um imperador,
Mas não aceitaram a minha verdade.
Puseram a pique toda cidadela,
Mataram o povo que acreditava,
Ceifaram cabeças nas gamelas,
E nas valas o sangue jorrava.
Aqueles tempos trouxeram o cangaço,
E mais tarde gerou até Lampião,
Com o mundo sem fé ou compasso,
Entre guerras e valores do Cão.
Essa estrada é tão longa e torta,
Que nenhum caminho tem salvação,
Se os homens acham que só importa,
Ter ouro e poder, sem a compaixão.