DIAS QUE TEMOS
Os dias que temos dependem do uso,
Se durmo, se como, se bebo ou ando,
Mas somos os frutos de cada abuso,
Quando os carros se vão capotando.
As estradas da vida não compreendo,
Pois os gostos humanos são diversos,
Uns gostam de ver a cana moendo,
Enquanto o caldo reclama meu verso.
Eu gosto de ter conversas longevas,
Ouvindo as estórias e os conselhos,
Trocando idéias sobre luz e trevas,
Ou sobre os desejos nos espelhos.
Talvez chegue o dia de despertar,
Desde que caímos em sono profundo,
O qual adveio em um triste luar,
Mas um dia o amor terá o mundo.
Os seres humanos ainda evoluem,
Mesmo que hoje sejamos bárbaros,
Pois destroem a tudo e poluem,
Querendo seu par como escravo.
Me lembro dos tempos de trevas,
Onde você era escravo ou servia,
E o saber era sombra em cavernas,
Ao imaginar sem saber o que via.
Acreditando em mar que se abria,
Falavam com Deus na sarça em fogo,
Ou pensando em ter donzelas na orgia,
Queriam ter honra em finais de jogo.
Achavam engraçado uma morte cruel,
Como fosse coragem e não covardia,
Se a vida é um fruto de Emanuel,
Pois, sem Deus, sou cego sem guia.