PESADELOS MEDONHOS
O mundo de agora é sem eixo,
Mesmo tendo relógio e prumo,
Pois o homem é puro desleixo,
Desde quando anda sem rumo.
Tudo é culto à dor e a Hades,
E o canil promíscuo de cérberos,
Com o mundo cheio de grades,
E os corvos comendo cérebros.
O torpe prazer é a carnificina,
Mesmo quando não há o canibal,
Onde a violência é uma toxina,
Que faz de nós o pior animal.
Talvez fôssemos um bom autômato,
Pois não haveriam sentimentos,
Muito menos um amor platônico,
Ou a guerra sem mais argumentos.
Não teríamos gente bilionária,
Pois dinheiro não salva o mundo,
E o excesso faz gente ordinária,
Que nos diz como ser vagabundo.
Produzir comida e jogar fora,
Vendo um mundo cheio de fome,
Vem dizer da caixa de Pandora,
A despeito da fé ou do nome.
Uns vão sempre falar ser mérito,
Mas qual mérito valida a miséria?
Se não posso comprar no crédito,
O direito de ter paz ou férias.
Hoje a escravidão é implícita,
Pois a mais valia é um demônio,
Travestida de dona explícita,
Do que são pesadelos medonhos.