TUDO EM INGLÊS
O que vou fazer nessa noite,
Se tudo é fuligem de um vulcão,
E quando lhe digo, não anote,
Pois será meu registro em vão.
É o fim do mundo que me acode,
De tanto manterem a mineração,
E tem a barragem que explode,
E também inunda meu quarteirão.
Eu disse querer só uma casinha,
Em uma colina e com a solidão,
Pois todos morreram de arminha,
Então, imaginem com um canhão.
Disparam os mísseis com drones,
Pois a baioneta já se aposentou,
E as ruas agora são sem nomes,
Contadas por quem as numerou.
Não há mais raça ou espécie,
Pois tudo agora falo em inglês,
E até a padaria é delicatessen,
Enquanto o pão de sal é francês.
Se vou ao comércio é shopping,
E a merenda vem do drive-thru,
Ou se tô na Olimpíada é doping,
E o meu Tupã pode ser Manitu.
Hoje, as árvores chamam-se trees,
Mas não plantam ou cuidam delas,
Quando nas farms nem há mais raiz,
Porque só há estábulos e fivelas.
Eu sonho com gente mais consciente,
Que mais partilhe do que enriqueça,
Porque fui faraó e hoje sou gente,
E tudo que tenho espero que cresça.
Assim é no campo e no meu jardim,
Se planto e rego o que devo adubar,
Se cheira a estrume ou rosa carmim,
Pois tudo é razão para me educar.