ONTEM E HOJE
Eu não plantei sementes de ódio,
Só fiz a leira pra flor do amor,
E podei os chifres do unicórnio,
Porque não quero o que traz dor.
O meu solo é de terra bendita,
Porque o sei livre de promessa,
E não a roubei de gente aflita,
Nem segreguei o direito a essa.
Se eu fosse livre nesse planeta,
Não daria o direito de colônia,
Pois o mundo é de avó e de neta,
E não de Israel ou da Babilônia.
Aqui ninguém é dono de nada,
Pois tudo nos foi emprestado,
E o ouro, no fim da jornada,
Aqui fica e não vai ao lado.
Porque existimos, pobres humanos,
Temos hipóteses, mas não teorias,
E ninguém sabe quais os planos,
Que existem bem antes dos dias.
Mas sabemos que não há futuro,
Para um ser que nunca evolua,
Pois a água goteja no escuro,
E seu encanto reflete a lua.
Se ontem eu era um pitecantropo,
E até andei com os neandertais,
Não quer dizer ser hoje garoto,
Ou estar vivendo com os demais.
Talvez eu seja um mero espectro,
A sussurrar com o vento às tardes,
Ou um mestre sem o seu séquito,
Que vê nossas vidas por partes.