SOLIDÃO E ACONCHEGO
Eu vivo sob o manto do contraste,
Onde a solidão às vezes me afaga,
Mas há dias em que sou descarte,
E o seu coração é que me acalma.
Se me prostro no gelo pro urso,
É porque sei da minha missão,
Se eu masco seu couro e curto,
É de tanto sonhar com o verão.
Mas certo dia andei pelo deserto,
Com minha alma cheia de paixão,
Sempre à busca de viver liberto,
Como um oásis que vem da ilusão.
Mas agora acordei tão sozinho,
E senti falta da sua atenção,
Com as mãos cheias de carinho,
E o consolo que dá seu perdão.
Estive só, como um leito seco,
Sem ter água ou peixes na rede,
Moribundo, de tanto que peco,
Pois a dor do louco é a sede.
Vou querer ir além do deserto,
Ao aconchego do colo de estrelas,
Nos caminhos em que me liberto,
Mas, no final, irei entretê-las.