NA CASA DOS SONHOS
Eu já morei em vários lugares,
Mas ainda tenho os pés na Bahia,
Foi onde cresci olhando Antares,
E as Três Marias em sabedoria.
Cada casa por onde eu passei,
Deixei minhas digitais na porta,
Mesmo por onde eu mais evitei,
Cada dia de sol é que importa.
Se não fosse por ele eu morria,
Pois foi dele o meu horizonte,
E as noites com mais nostalgia,
Se nelas jazia o meu mastodonte.
A casa dos sonhos ficou na infância,
E nela tudo era um sol de promessas,
Falava com primos mesmo à distância,
Mas tinha de esmola amigos à bessa.
E nos fins de tarde, ao sol poente,
Olhava estrelas que me assustavam,
Ouvindo estórias dos tios ausentes,
Que vinham furtivos e não ficavam.
Meus sonhos perduram pelas casas,
Só estou bem mais velho e louco,
Mas guardo o segredo nas farsas,
Pois o couro da cobra ficou oco.
Na Bahia dos santos e dos orixás,
Tudo lembra energia e querer bem,
Com segredos sussurrando no ar,
Ou cochichos no ouvido de alguém.
Só não me perguntem o que aprendi,
Pois direi que ainda falta o óbvio,
Que é saber do que não sei se ouvi,
Ao som das patas de cada unicórnio.