AQUI NOVAMENTE
Se eu nascesse aqui novamente,
Eu gostaria de vir como índio,
Ou um preto retinto e ardente,
E assim ter dias mais lindos.
Celebrar cada solo e relevo,
Ver os bichos a nos tolerar,
Conviver sem demonstrar medo,
Desde quando souber caminhar.
Cada taba ou núcleo de castro,
Só me diz onde eu posso morar,
Mas eu ando de modo tão casto,
Pois só tenho amor para dar.
Vi bem antes que tudo foi guerra,
Desde Atlântida até onde eu morri,
E toda vez que a vida se encerra,
Há quem chore, mas eu não sorri.
Se eu sorrir, sendo de alegria,
Também quero por ter esperança,
Se chorar pode ser nostalgia,
Mas a dor pode vir duma lança.
Nessa vida serei a busca da paz,
Com respeito a meus semelhantes,
Seja arquiteto ou aquele que faz,
Mas também a quem siga adiante.
Vou querer frutos do que plantei,
E poder pescar pertinho de casa,
Tomar café com raízes que achei,
Com um milho assado na brasa.
Vou querer ir à ópera num forte,
Vou ler no Coliseu a minha poesia,
Em vez de digladiar até a morte,
Vendo soldados numa louca agonia.
Vou querer ter coragem para amar,
Servindo de exemplo e com atitude,
Convidar meus vizinhos para cear,
Se louvar talvez seja desfrute.
Meu modo de sonhar será só meu,
Mesmo se não concordares comigo,
Mas vou tolerar que sejas ateu,
Se eu partilhar seu jeito amigo.
Não vou brigar, mas só repartir,
Pois sempre haverá o suficiente,
E quando eu quiser algum elixir,
Será do amor de um ser imanente.