MISTÉRIO DOS ÁTOMOS
Eu, que ando entre as flores,
Junto com abelhas e mangangás,
Defloro fótons com suas cores,
Mas nos odores não sou gambá.
Se eu for abelha, não quero ferrão,
E quero saber colher o que presta,
Mesmo sabendo que não há perdão,
Para quem sabe e estraga a festa.
Os homens constroem e modificam,
Mas um cupim rói o que é defeito,
Se um jacarandá está onde gritam,
Querendo a mangueira no pleito.
Os homens também são descartáveis,
Mesmo sendo topo de escala animal,
E sendo onívoros, são invejáveis,
Mas são alimentos no mar social.
Tudo aqui é mistério dos átomos,
Depois que se queima na fornalha,
E as estrelas explodem em hiatos,
Espalhando no Cosmos essa palha.
E essa palha se faz de elementos,
Que juntos são moldes de tudo,
Sejam rios e mares ou fermentos,
Que se tornam as vidas que julgo.
Sou antropofágico com meus versos,
Que tanto dilacera, quanto contamina,
E cada tempero que eu uso são berros,
Que lhes reclama serem água de mina.
Não devemos conviver na discórdia,
Muito menos a ira deve nos excitar,
Pois, irados, perdemos a alegria,
E bem mais virá para nos sangrar.
Sangram todos nas dores da guerra,
Pois quem as faz não luta em campo,
Sendo disputas por riqueza e terra,
Com desculpas de ser algo santo.