PLANTAR NAS ENCOSTAS

PLANTAR NAS ENCOSTAS

Quando a poesia vira crônica,

Devo falar de modo visceral,

Se limão com gás vira tônica,

E eu não leio mais um jornal.

Vou falar sobre a Cidade Sol,

Onde está e porque faz calor,

Se não plantam mais o girassol,

E as sombras são só de torpor.

Já não quero ser como Diógenes,

Pois aqui há um sol inclemente,

E é preciso um colosso de rodes,

Se não tenho árvores à frente.

Mas há relevo no vale das contas,

Onde eu sou Jequié de nascença,

E a encosta do rio não tem onças,

Mas o nome daqui tem presença.

Nas montanhas que cercam a tudo,

Cabem projetos de reflorestamento,

E as encostas que vejo eu discuto,

Sobre o que plantar ante o vento.

Sei que cabem tanques e represas,

Sobre as mesas de todos os morros,

Para um gotejamento sem surpresas,

Onde planto um milhão de cachorros.

Falei de cachorros para ter rima,

Mas cachorros seriam as plantas,

Para nosso benefício nas esquinas,

E ser feliz com rezas e mantras.

Com mais a cobertura arbórea,

Morarmos na cidade é tão fácil,

Pois só vai faltar a lei áurea,

E não sermos escravos do Lácio.

Nesse mundo que tudo é dos nobres,

Quem manda são europeus ou judeus,

Pois o ouro roubaram dos pobres,

Que são índios, pretos e plebeus.

Nossa chance como bons brasileiros,

É gestar melhor a terra e o clima,

Pois nosso ouro é sermos faceiros,

O que requer mais amor e estima.