CHEGAR EM ALGUM LUGAR
Nasci de um gesto comum da vida,
Saindo escorregadio pela placenta,
Olhei com olhar miúdo a acolhida,
Mas meu choro foi dor sangrenta.
Fazemos iguais até um certo dia,
Como se fossemos algo em série,
Porque não sabemos e é só agonia,
Buscar um caminho na intempérie.
Ouvir os soluços de quem sofre,
Saber que há dores nas faltas,
Colher testemunhos tão nobres,
Nos faz aprender sobre a malta.
Fazer de nossas vidas uma fortuna,
Não quer dizer agir como eu quiser,
Mas saber que não somos a borduna,
E sim a alavanca do que se puder.
Se vamos chegar em algum lugar,
Não creio que esteja já posto,
Pois essa vida é para se sonhar,
Mas o sonho nem sempre é gosto.
Sonhamos também como pesadelos,
Embora queiramos só a felicidade,
Mas ela é um estado ou espelho,
Do que fiz ou faço de verdade.
Se eu plantei algum dia na vida,
Se eu reguei e cuidei do pomar,
Talvez haverá uma chance ativa,
De que os frutos possa saborear.
Mas que chance terei sendo estéril,
Como solo e alma que não comunga,
Se eu for apenas um ser monastério,
Como ermitão que não vê o Kalunga?