CONVERSAS ENTRE VERSOS
Moer azeitonas ou colher amoras,
São sonhos que se pode almejar,
Pois agora o segredo é sem hora,
Quando temos a Chapada como lar.
Conversar com os bichos da seda,
E tomar suco com pães e geléias,
Faz lembrar que há frutas azedas,
Pois o morango quer sempre platéia.
Cultivar orgânicos requer paciência,
Se o tempo das frutas é mais longo,
E diante da praga nós temos ciência,
Pois criamos sapos para pernilongos.
Se há escorpiões, eu tenho gambás,
E se vem as cobras eu chamo um teiú,
Se o mato eu respeito, sou tupinambá,
Mas se quero água, sou Paraguassu.
Além do cultivo como uma atitude,
Chapada é casa de grutas e rios,
Pois tem cachoeiras em altitude,
E estórias de sertanejos de brio.
Ouvindo conversas entre versos,
Por cada menestrel ou pelo griô,
Vejo os testemunhos do Universo,
Como a estrela cadente e a flor.
Na Chapada temos as barrigudas,
No lugar que haveriam os baobás,
Pois aqui foi África e Bermudas,
Que em Abrolhos eu vi separar.
Aqui não tinhamos as baleias,
Mas haviam corujas e dragões,
Quando vieram navais sereias,
Transformando tudo em ilusões.
E assim, irei gozar da velhice,
Com a sombra das nuvens que acho,
Foi isso que uma cigana me disse,
E as castanhas assavam no tacho.