TRINTA E QUATRO OLIVEIRAS
Às vezes preciso externar o ego,
E dizer do amor que está a meu lado,
Mesmo quando sou cego e não nego,
Mas eu vejo e fico encabulado.
Amar sem limites é muito sério,
Mas sou uma raiz sob um tronco,
E, de repente, me faço minério,
E vou ser adubo ou me arranco.
Eu sei que devo dar bom fruto,
E também fluir como as flores,
Pois o meu defeito é ser bruto,
Mas um bruto apenas em rumores.
Em verdade, só quero colo e amor,
E um ombro onde eu posso sorrir,
Na cidade ou no campo ser a flor,
Mas também ser o seu bom colibri.
Eu casei, faz tempo e tô velho,
São trinta e quatro giros ao sol,
Que eu pediria a um escaravelho,
Permitir ser só um bom caracol.
Quem eu amo tem graça e tolerância,
Pois a filha de oxum é puro dengo,
Mesmo que seja de mel e fragrância,
Mas é harmonia à qual eu me rendo.
Dizem que tudo tem nome de bodas,
E a de agora é com as oliveiras,
Melando de azeite o que transborda,
Pois nesse amor somos cordilheira.
Meu nome ela sabe de cor e salteado,
E todos os meus vícios e defeitos,
Mas me valoriza pelo que guardo,
Pois somos tesouro e não o confeito.
Ela vai reclamar, isso eu já sei,
Se é o seu modo de falar do amor,
E como um servo eu sigo sua lei,
Pois é supimpa no riso e na dor.
Seu sangue corre com o meu,
Desde quando somos colméia,
Mas o fogo nos deu Prometeu,
E o mel vem do seio de Reia.