SONHOS E VERBO
Um poema, por mais profundo que seja,
Nunca irá revelar tudo a ser mudado,
Como um sol não irá matar quem beija,
Mas aos poucos lhe faz pão tostado.
Tudo a se dizer não cabe num verso,
Mas a minha rima sugere que pensem,
Entre os tempos e eras dos verbos,
Sobre tantos que perdem ou vencem.
O vento que serpenteia as palhas,
É o mesmo que atiça os incêndios,
E aquele que cada chuva atrapalha,
Leva as gotas e depõem o essênio.
Como é frutificar sem ter chuva,
E estar num deserto sem os rios?
Qual o segredo do oasis na curva,
De uma estrada que nunca se viu?
Sei que os sonhos me nutrem o verbo,
Mas também colho as versões de Éolo,
Como suspiros que abrem cadernos,
Ou ardis ou segredos de um Otelo.