A NOITE BUSCA O SOL
Andei pelos campos à noite,
Entrei na floresta lúgubre,
E o vento era como chicote,
Ou suspiros da voz de Anubis.
A noite se assemelha à morte,
Mas gesta as vidas no oculto,
Pois tem a lua como consorte,
E corujas que caçam em grupo.
Tudo é de repente, senão acordo,
Pois zuada demais é pesadelo,
E os sonhos às vezes recordo,
Quando sinto arrepios no cabelo.
Eu gosto da lua e das fadas,
E junto ao saci e um curupira,
Para enganar a onça nas matas,
Ou um lobo guará na matilha.
Não quero ser como a melancia,
Que o lobo guará fura e chupa,
Pois serei descarte sem pia,
Para apodrecer de tanta labuta.
Quero ser como um bom girassol,
Que se rega de orvalho amiúde,
E pela manhã é quem busca o sol,
E lhe pede que sempre o ajude.