TUDO É EFÊMERO
Cada dia que passa é só tempo,
Que esvai ou se muda de lugar,
Pois o Cosmo não para o vento,
Que as estrelas estão a pulsar.
Nada aqui é firme ou estático,
Pois os astros estão a vagar,
Só a sensação de ser prático,
Mas o prático não sabe sonhar.
Tudo é efêmero, mesmo no eterno,
Como a colméia no pé de aroeira,
Ou o cupinzeiro num pau aderno,
Que, lá deitado, sucumbe à poeira.
As casas sem gente ou serventia,
Serão só ruínas e sem a história,
Mas cada morada de vó ou de tia,
Pode ter bolo e chá de chicória.
Prefiro um café de cepa arábica,
Vindo da Chapada, por mãos de Ana,
Do que ter os chás lá da Calábria,
Pois vivo numa terra mais bacana.
Eu sei que esse lugar é de antes,
Já foi um deserto e fundo de mar,
Porque essa terra é flamejante,
Pois teve vulcões para batizar.
O nosso relevo se move dengoso,
Mas nós não veremos o dia raiar,
Pois parte da vida é um repouso,
E o pouco acordado é pra caminhar.
E logo a noite chega e arrebata,
Pois logo morremos sem perguntar,
E o carro de fogo é uma chibata,
Que num açoite me faz levitar.
Se eu sou Elias ou Joana D'Arc,
Nos dias de hoje eu posso cremar,
Mas também posso ter o embarque,
Donde veja estrelas sobre o mar.