SOU APENAS COMO TODO POETA
Sou apenas um pobre homem,
E nada a mais do que isso,
A viver para ser um totem,
E algo além de um feitiço.
Sou somente a minha realidade,
Visceral e partícipe de um ofício,
Quando está sofrendo a insanidade,
Perpetrada pelo meu sacrifício.
Ser esquartejado e ainda vivo,
Ao sofrer muito mais em espasmos,
Só me traz a memória de um grifo,
Pois fui águia e leão em acasos.
Mas o seres do meu imaginário,
São melhores dos que hoje vejo,
Pois é desumano todo legionário,
Se ora saqueiam Gaza ou Saravejo.
Sou a história do mundo contada,
Pois vivi em várias civilizações,
Fui da Caldéia até Creta ou Praga,
Como em Bracara eu tive emoções.
Vivendo além das cavernas e matas,
Eu sou aquele que tem um coração,
Pois sou a paz de quem não ataca,
E não desfaz as pegadas no chão.
Não sou areia da beira da praia,
Se os meus passos são minha versão,
As quais registro na Corte de Haia,
Porque me enoja quem mata um irmão.
Venho dos tempos de uma só família,
Como nos clãs e tribos em África,
Sou de ancestrais, filho de filha,
Pelos portais da arte mais trágica.
Vivi as tragédias além de um palco,
Fui convidado a sentar com os reis,
Mas não sofri o infortúnio do assalto,
Pois entre os versos eu me despojei.
Todo poeta é a voz das virtudes,
Irreverência acordada com o caos,
Que traz ao velho a sua juventude,
Como quem desnuda o bem e o mal.