UM SERMÃO FRENTE ÀS AVES
Os sermões são caros e mansos,
Quando um mestre está incluso,
Pois um tolo prefere o descanso,
Do que ir peregrinar no escuro.
Toda alma quer ter seu consolo,
Em pleno dia ou até numa cova,
Como fosse ter a fôrma do bolo,
E o fermento ou massa que sova.
Se foi na China ou pela Itália,
Ante Confúcio ou São Francisco,
O que sei sobre a minha falha,
Irei falar ao mestre ou bispo.
Vou querer entender meu pecado,
Como também quero o que é lícito,
Pois a minha certeza é o fardo,
Que carrego desde o meu início.
Vejo as crianças como inocentes,
Sem pecado herdado ou promíscuo,
E por isso não aceito correntes,
Nem a cegueira do ódio ou cisco.
Quem disser pra mim qual a razão,
Para as guerras e toda matança,
Eu direi que perdoem seu irmão,
Senão vão findar a esperança.
E o que faz protelarmos a morte,
É a ideia de que haja outra vida,
Pois a virtude quer melhor sorte,
Do que a maldade que não convida.
Foi esse um exemplo de Francisco,
Santificado no amor pelos bichos,
E o sermão frente às aves é visto,
Como a certeza de não sermos lixo.